Simone O. Marques - Paganus



Ficha técnica: Paganus
Autora: Simone O. Marques
Editora Literata (anteriormente pela ed Modo)
Lançamento original: outubro/2013 (2011)
340 páginas


"Portugal, 1673. Duas mulheres celtas e um bebê recém-nascido enfrentam a perseguição da Igreja contra hereges pagãos. Obrigadas a deixar sua aldeia, ajudadas por um jovem cristão, partem em busca de um lugar onde possam cultuar seus deuses livremente. Em meio a sua fuga, descobrem que a Grande Mãe tem uma missão para eles e que os levará a lugares inesperados e a uma desconhecida Terra Nova."




ROMANCE HISTÓRICO. NACIONAL.
A história é ambientada na Lisboa de 1660-70. Dois irmãos, gêmeos, mas com almas totalmente opostas acabam de perder a mãe. O pai, D. Mario, era um homem rígido e procurara não mostrar aos filhos o quanto sofrera com sua perda.
Os anos passam e a diferença entre os irmãos torna-se cada vez maior; até que ela se torna também uma diferença física, mesmo que pequena: Douglas perdera o polegar de uma das mãos, mas ainda assim, treinara-se para ser um ótimo cavalheiro com a outra mão.
Diogo era mais calmo, pacífico. Sim, ele também era bom cavalheiro, mas ele não compactuava do prazer do pai e do irmão em forçar os chamados pagãos a aceitarem o seu Deus.
D. Mario e Douglas eram implacáveis. Em muitas vezes eles sequer tentavam ver se os pagãos queriam ser convertidos. Simplesmente ateavam fogo em suas aldeias e matavam a todos.
Foi exatamente numa situação dessa que Douglas e Diogo mostraram suas diferenças, e a Grande Deusa escolheu Diogo para ajudar a traçar o caminho do destino...

A dinâmica das aldeias dos pagãos era diferente porque lá eles eram livres. Tinham contato direto com a natureza, andavam descalços, sabiam lidar com as ervas e as mulheres não baixavam suas cabeças perante os homens. Ao contrário, numa das aldeias a líder era Gleide, uma mulher altiva e orgulhosa, que nunca se apegara a homem algum, apenas usava-os a seu bel prazer.
Sua filha Adele, entretanto, era bem diferente, e ela encontrava-se às portas de dar a luz.
Com o ataque à aldeia delas, Adele entrou em trabalho de parto. Sentindo compaixão, Diogo entrou à casa para ajudá-la. Em sua ira e despeito, Douglas decidiu atear fogo àquela casa para fazer seu irmão sair e matar as "bruxas". Mas a casa queimou-se e ninguém saiu de lá. Diogo foi dado como morto.

Na verdade, guiado por Gleide, Diogo ajudou Adele a sair por uma passagem secreta e, assim, fugiram.
Diogo passou a ser considerado um pagão. Ou então, estava enfeitiçado pela bruxaria. De qualquer maneira, ele nunca se sentira tão feliz e livre em sua vida.

Gleide não era uma mulher de fácil convivência e ela desprezava a fraqueza de sua filha em deixar-se apaixonar. Homens deveriam estar sob os pés das mulheres, era o que Gleide sempre repetia, mas essa cantilena não serviu para sua filha. Em sua altivez, ela jurara que sua neta Daniele seria diferente da mãe.

A Grande Deusa era forte em Daniele. A menina cresceu linda e em ótima conexão com a natureza. Seu único problema era quando chovia. A força da terra parecia chamar por Daniele a ponto de raios e trovões tornarem-se mais fortes dependendo do estado de espírito da jovem.

Diogo via sua filha do coração desabrochando; ainda era apaixonado pela esposa, Adele, e agora eles também tinham uma menino, batizado cristão como Mateus, mas com o nome de Angus à Grande Deusa.
Cansados de serem perseguidos e viverem mudando de aldeia, eles fingiram a conversão, mas continuavam adorando à Deusa em segredo.

Daniele começara a sentir que sua missão estava se aproximando. Em seus sonhos algo relacionado à terra além mar, Brasil, estava ligado a seu futuro, mas, também, a chegada de um jovem aprendiz de ferreiro, Guilherme, mexia com as emoções da jovem. E Gleide faria o impossível para que a neta não se distraísse de sua missão. Nem que para isso tivesse que magoar alguém de seu próprio sangue...




Se você já leu a série As Brumas de Avalon, ou viu o filme, deve ter notado as semelhanças.
A época histórica é a mesma. O Cristianismo e a Inquisição forçavam goela abaixo dos não cristãos a sua prática. Milhares de mulheres foram queimadas, mas na verdade, aldeias inteiras (também homens e crianças) foram destruídas por terem um culto diferente.

As vidas de Diogo e Adele se cruzam para proteger o que viria no futuro: a vinda daquela pessoa que manteria o culto à Deusa vivo, mas não mais em Portugal, e sim na nova terra, ainda considerada selvagem, cheia de índios e animais marinhos a caçarem aqueles que ousavam atravessar o mar.

Daniele não era filha de sangue de Diogo, mas ele a amou como se fosse, e a protegeu da melhor forma possível.
Há passagens na história que fogem aos padrões normais de comportamento de nossa Era Cristã dita mais civilizada, por isso, há momentos que eu reagia...



Ou...


Ou ainda...



Mas lembrando que era assim mesmo que algumas pessoas agiam naquela época, tive que seguir adiante.
Entretanto, também há momentos...


A história torna-se uma saga familiar, ainda que alguns não sejam familiares por sangue.
A Grande Deusa é uma personagem forte ao longo da trama e as mulheres têm um papel mais do que importante nisso tudo. Os homens são seus protetores/Campeões.

A capa é belíssima. Na verdade, se você olhar o site da autora (link abaixo da foto da mesma), poderá ver as capas dos livros seguintes, e todas são muito bonitas.
O ritmo da história é bom na primeira parte. A partir do crescimento de Daniele, eu achei que os saltos no tempo começaram a ser altos demais, mas nada que faça a história se perder.
Os personagens são fortes - em especial as mulheres. Gleide, Adele e Daniele formam 3 gerações de mulheres tão diferentes entre si, mas mesmo assim, com uma conexão forte.
Dos personagens masculinos temos Diogo (impossível não se apaixonar por ele), e mais adiante, Antonio.
Ponto negativo: gosto de ressaltar que como aqui se trata de uma opinião PESSOAL, e não uma crítica profissional, pode ser que uma coisa ou outra outros leitores discordem de mim, o que considero totamente saudável.
Para mim, a princípio foi difícil a adaptação do linguajar português, de Portugal. Os leitores que já convivem com algum parente que fale com o forte sotaque lusitano, pode não estranhar tanto quanto eu. Com o passar da leitura já não senti mais a diferença.
Ponto positivo: trama forte com um enredo que mexe com as crendices. Há de se ter a mente aberta para entender o comportamento de certos personagens aqui - em especial Gleide e Daniele. Alguns trechos podem ser chocantes. Mas como disse anteriormente, era o que acontecia naquele período histórico. Estranho seria se os personagens se comportassem como nós, na atualidade. Isso significa que a autora fez o dever de casa. 
O livro não termina necessariamente num cliffhanger, mas como é uma série, claro que no final já há uma brecha deixada à continuidade.

4 estrelas.


Paganus faz parte de uma série. O livro #2, SAMHAIN, já está disponível. O #3, BELTANE, será lançado em outubro.

Para adquirir:   AMAZON

Sobre a autora


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Comentários

  1. Adorei, a resenha, aliás como sempre! Tão bom ler textos bem escritos, tanto de ideias e coerência, como gramaticalmente também.
    Eu me acostumei no ato a ler livros de edições portuguesas, família paterna inteira de lusitanos, rs.
    Fiquei com vontade de ler esse livro, o visual do blog está perfeito, obrigada!
    Bjs perfumados de coisas boas :)

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  2. Vânia... =)
    Desculpe não ter comentado aqui antes, achei que o tinha feito. rsrsrsr
    Gostei muito de sua resenha e me senti lisonjeada pelos seus comentários!
    Espero que queira conhecer Samhain.

    Beijos!

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